sábado, abril 25

O não dito

O que é que tu sabes? Tu não sabes nada. Limitas-te a sentar-te na poltrona vermelha, como em tantos outros dias, abrir o maço, contar os cigarros que ainda te restam, como já constituí um hábito para ti, e retirar um, com a maior das delicadezas, seguindo esse acto com um atirar brusco do maço para a mesa mais próxima. Acendes o cigarro como se fosses Senhor do Mundo e falas de assuntos que não te dizem respeito enquanto o fumo sai pelos cantos da tua boca. Debates-te até com esse pormenor; Não suportas não ter controlo nem que seja do ínfimo pormenor. Bates o cigarro no cinzeiro e lá começas novamente o teu discurso desnecessário enquanto eu penso no que deverias antes dizer. Vejo as palavras que deveriam sair da tua boca escritas à minha frente, num longo rolo de papel, interminável. São exactamente essas as palavras que nunca dirás.
Declaras impossível sorrir tendo responsabilidades, julgas que nada é para sempre. Eu prenuncio-me, levanto a voz, desrespeito-te. Eu sei e hei-de sempre saber que qualquer pessoa pode sorrir. A capacidade de sorrir é uma das melhores capacidades do ser e todos os adultos sorriem mesmo tendo tantas responsabilidades, ou pelo menos conseguem e deverião. Também sei que tudo o que começa não tem um fim. Consideras-te sabedor da verdade, eu declaro-me defensora da sensatez. Dizes que tanto o mau como o bom, tem sempre um fim. Eu tiro-te a razão com os meus argumentos. Tanto o mau como o bom deixa uma marca em nós. Mesmo mediano, havemos de nos lembrar um dia. Temos memórias e sentimo-las, ficando tristes ou contentes por nos lembrarmos, por algum motivo: para nunca deixar nada ter um fim.

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