segunda-feira, abril 20

Duas galinhas e um tribunal


Peço-vos para se sentarem confortavelmente e tentarem perceber todas as palavras aqui escritas. Antes de mais, vou contextualizar o caso:

Hoje, na aula de Educação Física, eu a Sara Silva tivemos a oportunidade de falar sobre o blog da turma. Aí, a Sara contou-me que nessa mesma manhã tinha ouvido na rádio uma notícia que considerei deveras chocante, pelo ridículo: anunciaram o roubo de duas galinhas, com direito a testemunhas reais.
Mais tarde, quando estava a jantar, tive o prazer de ver o jornal nacional com a família. Qual não é o meu espanto quando começa uma peça sobre, esperem... sim, sobre as galinhas! Neste momento pensa-se: "Que horror, de facto deviam estar desesperados". Tirem já essa ideia da cabeça! O jornal nacional não serve só para falar da crise monetária. Também serve para falar da crise mental que anda para aí. Esta peça teve uma razão de ser: ao que parece, foi aberto um processo que já dura há cerca de um ano e meio e foi hoje a julgamento.
Risos à parte, estamos perante um grave problema. Não foi a excentricidade de uma pobre alma que levou a que 50€ em penas e bicos desdentados fossem vingados em tribunal, até porque, pelo que consegui perceber, o dono destas desistiu muito antes deste estrambótico julgamento. O caso foi aprovado em tribunal por senhores que andaram na universidade e as namoradas do galo (foi o dono, mas dizer que foram as galinhas é muito mais interessante) foram defendidas por uma senhora advogada que, para chegar a este estatuto, muito teve de ler. A pergunta é posta: as letras minúsculas dos gigantes livros de direito queimaram o juízo destas pessoas cultas, o dinheiro moveu-os, os tribunais já não têm o que fazer ou simplesmente alguém teve prazer em gastar muito dinheiro (NECESSÁRIO PARA OUTRAS COISAS REALMENTE IMPORTANTES) para defender um caso que já não existia?


PS: Não tenho nada contra galinhas, a sério. Mas, adaptando isto à nossa realidade menos saloia, já imaginaram o que era ir a julgamento sempre que alguém nos roubava um telemóvel?

PPS: Leiam, por favor, este texto http://miguel-lima.com/?p=637 e também o comentário da Catarina Araújo para ficarem melhor esclarecidos quanto ao sucedido. Este texto tem uma linha de pensamento ingénua mas não pretendo alterar nada.

3 comentários:

Miss S disse...

H-I-L-A-R-I-A-N-T-E!
Realmente, quando ouvi a notícia de manhã nem queria acreditar... Com tanta crise e processos acumulados em espera, arquivam-se também casos patécticos como este na estante de próximos a resolver...e acabam mesmo por ir a tribunal! Impressionante...pela negativa. Crise, crise, mas o importante é resolver questões de 50€, quais desvios de capital...
Enfim. Só mesmo em Portugal.
Joana, mais uma vez estás de parabéns!!!

Catarina Araújo disse...

Parecendo que não isto tem uma razão de ser. A única razão pelo qual o suposto ladrão temível de galinhas foi preso, foi por este já ter um registo criminal, ou seja está detido, sim, mas por prática de outros crimes, embora vá responder a tribunla pelo furto dos dois galos(sim, eram galos)Apesar do senhor que foi furtado desistir da queixa, o arguido continua detido, pois graças à prática de outros furtos pelo infractor o seu caso não pode ser resolvido pela suspensão provisória do processo ou então pelo processo sumaríssimo em que o Ministério Público propõe uma pena e o acusado aceita. Note-se no entanto que o pobre dono das galinhas foi roubado no dia seguinte, e desta vez foram-lhe furtadas não duas mas 17 galinhas(!), e o seu ladrão é incógnito.

Catarina Araújo disse...

Só quero corrigir um erro que fiz no meu comentario anterior:"o arguido continua detido, pois graças à prática de outros furtos pelo infractor o seu caso não pode ser resolvido pela suspensão provisória do processo ou então pelo processo sumaríssimo em que o Ministério Público propõe uma pena e o acusado aceita."- eu não queria dizer detido, neste excerto, mas sim que a única razão porque vai responder pelo furto das galinhas é porque graças à prática de outros furtos pelo infractor o seu caso não pode ser resolvido pela suspensão provisória do processo ou então pelo processo sumaríssimo em que o Ministério Público propõe uma pena e o acusado aceita. Ou seja está detido por outros crimes, vai responder a este das galinhas por já ter um registo criminal